Chegava a pensar, Rio de Janeiro, uma outra situação,
O pastor Ailton Soares vai iniciar o trabalho evangelístico na Estónia. Ao Folha de Portugal conta como tem sido o seu percurso dentro da Igreja e o que espera deste novo desafio
Folha de Portugal (F.P.): Como chegou ao Centro de Ajuda?
Pr. Ailton Soares (A.S.): O que me trouxe ao Centro de Ajuda foram problemas familiares e sentimentais. Tinha 16 anos e muitos problemas familiares. O meu pai era alcoólatra, num estado muito avançado e, por causa disso até aos 12 anos , via-o bater na minha mãe. Cresci com um ódio e revolta dentro de mim, que não me deixavam nem olhar para ele.
Chegava a pensar em formas de o matar. Depois acabou por sair de casa mas a minha mãe manteve uma relação com um homem casado e com filhos, cuja esposa fez bruxaria contra a minha mãe.
Entretanto, foi a minha mãe que chegou a fazer bruxarias para nos conseguir proteger e, nessa altura, começou toda a desgraça. Parti um braço e uma perna, tive uma depressão e dores de cabeça constantes. A ida ao bruxo não resolveu nada, pelo contrário, só piorou. Começaram a haver discussões entre mim e a minha mãe, passei a ser um jovem revoltado e muito nervoso.
Na área sentimental, não conseguia ter uma relação duradoura com ninguém, era muito solitário.
F.P.: Como conseguiu a sua libertação?
A.S.: O meu processo de libertação foi rápido, devido ao facto de me ter entregue muito rapidamente também. O último momento da minha libertação foi o perdão ao meu pai e foi bastante complicado porque havia muita raiva dentro de mim. Um dia, depois de uma reunião no Centro de Ajuda, marquei um encontro com ele.
Nessa altura disse-lhe tudo o que ia dentro de mim e deitei fora a mágoa, o ódio, a minha intenção de o matar… E ele chorou, como se fosse uma criança.
Depois dessa conversa foi como se uma pedra enorme tivesse saído de dentro de mim. Senti que a partir daquele momento nada impedia o meu encontro com Deus.
F.P.: Como é que tem sido o seu percurso na obra? Em que países já esteve?
A.S.: Batizei-me nas águas, tornei-me obreiro e depois pastor auxiliar. E começou aí a minha jornada no Altar.
Comecei no Rio de Janeiro e fiquei lá cerca de um ano e meio. Depois fui para a Rússia, dando apoio ao bispo responsável pelo trabalho da Igreja naquele país. Havia apenas uma Igreja e demos início ao trabalho evangelístico ali, abrindo depois vários Centros de Ajuda em várias cidades.
São culturas totalmente diferentes, em todos os aspetos, desde a comida, ao clima, à língua e às próprias pessoas. São um povo muito fechado, muito frio e é difícil conseguir tocar nos seus corações. Depois disso passei pela Ucrânia e pela Moldávia, até que vim para Portugal.
F.P.: Como é que encara o desafio de ir para a Estónia?
A.S.: Vamos chegar à Estónia e não há absolutamente nada, vamos ter que criar tudo. Ali vão estar pessoas que nunca nos viram e que nós também nunca vimos… Além disso, há uma diversidade muito grande de etnias e até na própria língua há diferenças dentro do país.
F.P.: Quais são as suas expetativas sobre o que vai encontrar?
A.S.: A expetativa é sempre de que corra muito bem! Mas, sabemos que não é fácil. Temos uma Fé-inteligente e, por isso, sabemos que temos que fazer um trabalho inteligente, que toque no coração das pessoas. É um outro povo, uma outra cultura, uma outra situação.
Já temos um hotel conceituado da capital onde vamos fazer as primeiras reuniões, já temos contactos de pessoas que ligam para os países vizinhos e que são da Estónia, para lhes enviarmos uma carta a avisar que vamos estar presentes no país. Inclusivamente já está também a ser construído o site do CdA na Estónia.
É um povo que sofreu muito devido ao facto de vários países terem mandado um pouco neles e, por isso, tornou-se descrente. 80 por cento das pessoas no país não crê em Deus e dos que creem, a maioria são luteranos e por isso religiosas e tradicionais.
É uma grande luta, não é fácil começar algo do zero e não é da noite para o dia que se faz um trabalho deste tipo.
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