Um novo estudo produzido pelo programa de rádio “File on 4” da BBC revelou a crescente prevalência da automutilação entre crianças e adolescentes no Reino Unido. A tendência alarmante dobrou nos últimos seis anos, equivalendo a uma média de 10 internações hospitalares por semana de crianças de 9 a 12 anos. Esse comportamento de muitas crianças e adolescentes é como uma forma de tentarem aliviar o sofrimento na alma, e hoje Olanike Caulker compartilha sua experiência.
Uma lembrança que tenho nítida em minha mente é de, aos três anos, ver minha mãe sendo espancada e arrastada pelo chão por meu pai. Eu tentava ao máximo ficar fora do caminho para não me tornar o próximo alvo. Os meus olhos e ouvidos estavam sempre atentos e eu estava sempre receosa, sem saber quando a próxima briga ocorreria. Mas também ficava indecisa entre tentar resgatar minha mãe chamando a atenção do meu pai ou buscar ajuda de alguma forma.
Eu me sentia confusa e estava sempre assustada. Me concentrava intensamente em outra coisa para me distrair, e essa outra coisa era a automutilação. Sentia que não podia confiar em ninguém em casa, então isso se tornou um mandamento, pois era a única maneira de liberar o que eu sentia por dentro.
Eu tinha um amigo, Albert, que conhecia desde a época da escola, mas assim como eu, ele também tinha seus problemas. Me sentia confortada apenas por ter sua companhia, embora soubesse que ele não podia me ajudar. Um dia, criei coragem para falar com a minha professora. Contei a ela como me sentia em relação a mim mesma, à minha família e à vida em geral, e ela até viu as cicatrizes.
Porém, como ela achou que meus braços não estavam tão mal assim, não me levou a sério. Como um último pedido de ajuda, marquei uma consulta com meu médico. Saí de lá com uma receita de antidepressivos mas nada se resolveu.
Os comprimidos não faziam nada além de me dar sono, então toda vez que eu não conseguia dormir, tomava um. Sentia que, para onde quer que eu fosse, não havia saída. Tinha certeza de que ninguém poderia me ajudar e não via sentido em viver. Sofri com esses sentimentos e pensamentos durante anos.
O que me deu um vislumbre de esperança de que as coisas mudariam foi quando me inscrevi para estudar enfermagem em uma universidade em Cambridge. Quando chegou a hora de sair de casa, não consegui conter minha empolgação. Sinceramente, pensei que estando longe de meus pais eu poderia viver minha melhor vida. Comecei a ir a festas, usar roupas provocantes e fumar maconha. Tornei-me uma garota festeira e era a vida e a alma de qualquer festa, mas essa não era minha verdadeira identidade.
Na verdade, eu era uma pessoa muito tímida que tentava mascarar a angústia em minha alma. Durante esse período, eu ainda mantinha contato com o Albert, mas não podia mais simplesmente ir vê-lo como antes, pois ele estava na universidade em Southampton.
A vida era insuportável. Estudar enfermagem deveria ter me dado a alegria que eu procurava, pois supostamente eu deveria estar ajudando os outros.
No entanto, eu não conseguia ajudar nem a mim mesma. Por duas vezes, tentei acabar com tudo. Achei que a única saída era tomar uma overdose de comprimidos e amarrar uma corda em meu pescoço. Nas duas vezes, desmaiei e não me lembro do que aconteceu depois disso. Tudo o que eu sabia era que não funcionou.
Pouco tempo depois, Albert me contou que um amigo o convidou para a Igreja Universal e perguntou se eu queria ir também. Seria essa uma chance de salvação depois de todos esses anos, para eu finalmente dar uma guinada em minha vida?
Para ser sincera, eu não sabia como Deus poderia me ajudar, mas aceitei o convite mesmo assim. Em toda a minha vida, nunca tinha visto tantos jovens realmente felizes. Isso me intrigou. Eu queria saber como poderia ser feliz também.
Sempre ouvia a palavra ‘fé’ ser mencionada nas reuniões e tomei cada reunião como uma oportunidade de aprender a usar a minha fé e construir um relacionamento com Deus. Quando comecei a ver os resultados, não conseguia acreditar! A primeira coisa que notei foi que a tristeza insondável havia desaparecido e eu estava realmente sorrindo, não apenas por fora, mas por dentro.
Como havia perdido a confiança em quase todo mundo, eu não achava que os conselheiros se importariam comigo – muito menos que poderiam me ajudar. No entanto, quando finalmente decidi me abrir, entendi que guardar rancor dos meus pais, principalmente do meu pai, estava me fazendo mais mal do que bem. Era como beber veneno esperando que a outra pessoa morresse.
Não foi fácil, mas optei por perdoá-los. Ao fazer isso, me senti mais leve, como se um peso tivesse sido tirado de mim. Nunca imaginei que a minha vida pudesse ser transformada de dentro para fora.
Hoje, estou em paz comigo mesma. Ferir-me intencionalmente e acabar com a minha vida não poderia estar mais longe da minha menteAlbert me pediu em casamento e estamos casados e felizes há dois anos. Nós estamos em um estágio em que podemos realmente ajudar um ao outro e eu não poderia estar mais animada com nosso futuro juntos. Hoje, posso realmente dizer que estou vivendo a minha melhor vida”
Olanike Caulker
Deixe um comentário