“Me lembro daquele dia como se fosse ontem. Era 31 de dezembro de 2022, saí de casa por volta das 7pm, fumei um cigarro e entrei no carro. Estava muito apreensiva porque pela primeira vez eu ia a uma virada de ano em uma igreja.
Normalmente eu passava a virada de ano em baladas, então desta vez estava totalmente fora da minha zona de conforto, mas algo me dizia que aquilo era a coisa certa a se fazer. Afinal, todas aquelas festas e bebidas não puderam preencher o vazio interior que eu tinha. Os meus problemas começaram quando eu ainda era criança.
Havia uma guerra acontecendo no meu país (Moçambique), então quando eu tinha cinco anos a minha família precisou fugir de lá. Acabamos em um campo de refugiados na Suazilândia, onde passamos dez longos anos.
Quando finalmente saímos, nos mudamos para a Europa. Eu achava que as coisas iam melhorar, mas logo a minha esperança se esvaiu: após dois meses, meu irmão perdeu a vida em um acidente de moto. Pouco depois, minha mãe também faleceu. Embora eu ainda tivesse meu pai e outros familiares, me senti sozinha sem minha mãe para me orientar.
Pensando que já estava crescida e que sabia de tudo, comecei a ir a festas onde bebia, fumava e me envolvia com diferentes rapazes. Então, aos 19, conheci alguém que achei ser a minha ‘alma gêmea.’ Nos demos bem de início, mas com o passar do tempo ele se tornou muito ciumento e começamos a ter vários desentendimentos.
Achei que se tivéssemos uma criança isso nos aproximaria, mas estava errada! Quando meu filho nasceu, nosso relacionamento piorou ainda mais. Como uma forma de tentar escapar dos problemas, comecei a usar drogas, mas assim que aquele ‘alívio’ temporário passava, eu estava de volta à minha triste realidade.
Acabei resolvendo terminar aquele relacionamento e me mudei com meu filho para o Reino Unido. Embora agora estivesse em um país diferente, foi a mesma velha história: entrei em mais um relacionamento problemático, no qual eu tive duas filhas. Quando tudo desmoronou, me tornei uma mãe solteira de três.
Foi difícil criar as minhas crianças sozinha, mas sendo uma mulher forte e determinada, logo estava trabalhando e ganhando meu próprio dinheiro, e consegui colocar a minha vida de volta no lugar. Por fora as coisas caminhavam, mas por dentro eu ainda estava destruída. Minhas noitadas regadas a álcool e drogas apenas anestesiavam o meu sofrimento por um curto tempo, mas quando eu colocava a cabeça no travesseiro, todo aquele vazio voltava.
Um dia, uma colega de trabalho notou que eu não estava bem e disse: ‘Há um lugar onde você pode receber ajuda espiritual para os seus problemas!’ Aquele lugar era a Igreja Universal, mas eu não aceitei o convite. No fundo, ainda não aceitava que precisava de ajuda, afinal eu era independente, bem-sucedida e supostamente livre, mas a realidade é que eu não era livre. Era escrava dos meus hábitos negativos e problemas internos, mas não conseguia ver isso.
Por nove anos, continuei acreditando na minha própria mentira de que tudo estava bem, mas o meu vazio interior só aumentava. Eu não estava mais aguentando. Uma manhã, finalmente entendi que precisava de ajuda, então liguei para a minha amiga. Desabei em lágrimas no telefone. Ela me disse que tudo ia ficar bem e me convidou para uma reunião na Universal, e desta vez eu aceitei. Eu não sabia o que esperar, mas me senti muito bem recebida. Oraram por mim e me senti leve, como se tivessem me tirado um fardo pesado. Nunca me senti assim antes, então decidi continuar frequentando as reuniões.
O final do ano se aproximava e fui convidada para a Vigília da Virada. Pensei: ‘Por que não?’ Eu costumava passar as vésperas de Ano Novo festejando e bebendo, e no primeiro dia do ano lá estava eu, enfrentando os mesmos problemas e ainda de ressaca, então decidi tentar algo novo desta vez. Talvez se eu fizesse algo diferente, poderia ver resultados diferentes. A primeira coisa que chamou minha atenção na Vigília foi ver pessoas de todos os tipos – famílias, jovens, idosos – juntas e com sorrisos genuínos em seus rostos.
Eu desejava essa mesma felicidade, e quando ouvi o pastor dizer que se fosse sincera com Deus e entregasse meu coração a Ele eu poderia ser verdadeiramente feliz, eu acreditei. Decidi entregar todos os meus problemas a Deus e saí da igreja com uma alegria e uma força interior que nunca tive antes. Sou muito feliz por ter feito isso porque, depois de anos de resoluções não cumpridas, 2023 foi realmente ‘Ano Novo, Vida Nova.’ O cigarro que fumei a caminho da Vigília foi o meu último. De alguma forma, não senti mais a necessidade daquilo.
Eu me senti tão em paz que, a partir daquele dia, entendi que o que faltava dentro de mim todos aqueles anos era a presença de Deus. Eu entrei não apenas em um Ano Novo, mas também em uma nova fase da minha vida. A cada reunião comecei a aprender mais sobre quem é Deus e como me aproximar dEle. Entendi a importância de perdoar aqueles que me magoaram e também a mim mesma, pelas escolhas erradas que fiz. Decidi deixar para trás tudo que me prendia ao meu antigo estilo de vida, incluindo sentimentos negativos, hábitos e amizades. Conforme entreguei tudo isso a Deus, Ele me tornou completa de dentro para fora.
Doze meses se passaram e hoje sou uma mulher melhor, uma mãe melhor, tenho uma família abençoada e mesmo quando surgem problemas, fico em paz porque sei que Deus está comigo. O vazio que eu tinha foi preenchido com tanta alegria e paz que se tornou uma necessidade compartilhar isso com os outros. Hoje, saio com a mesma amiga que me convidou para a igreja para alcançar outras pessoas e mostrar a elas que as coisas podem mudar!”
Sara Antonio
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